O Soldadinho de chumbo



Era uma vez um menino que tinha um pelotão de soldadinhos de chumbo e gostava de imaginar batalhas históricas em que esses soldadinhos participavam. Um dia numa dessas batalhas um soldadinho caiu e partiu uma perna. O menino agarrou nele e disse:
- Tu foste o soldadinho mais corajoso que vi até agora, vais passar a ser o comandante do meu exército! - exclamou maravilhado.
Colocou os soldadinhos enfileirados sobre a mesa, ao lado dos outros brinquedos com o soldadinho que só tinha uma perna a frente, a dirigir o exército.
Nessa mesa estavam também os brinquedos da irmã. O mais bonito era uma jovem bailarina que estava em pé em posição de dança com os braços erguidos em arco sobre a cabeça. Vestia uma saia de tule franzida, pelo seu lindo rosto caiam longos cabelos negros, presos por uma tiara enfeitada com uma pequenina pedra azul. Uma das pernas estava tão dobrada para trás, que acabava escondida pela saia de tule.
O soldadinho olhou para ela e apaixonou-se imediatamente, pensando que, tal como ele, aquela jovem tão linda tivesse uma perna só.
“Mas é claro que ela não vai me querer para marido”, pensou triste o soldadinho, suspirando.
“Tão elegante, tão bonita… Deve ser uma princesa. E eu? Nem cabo sou!”

Na manhã seguinte, o menino tirou os soldadinhos de chumbo da mesa e colocou-os perto da janela para combaterem os inimigos. De repente, a janela abriu-se com a ventania e o pobre soldadinho caiu de cabeça na rua. Para piorar a situação, seguiu-se uma grande tempestade.
Choveu tanto que o soldadinho se viu arrastado pela água e lama para dentro do buraco do esgoto. O soldadinho estava muito assustado, sempre a rebolar no meio das pedras e lama até que viu ao longe uma luz, e respirou de alívio.
A água do esgoto chegara a um rio, com um grande salto, o soldadinho caiu na água do rio e foi afundando, apareceu um enorme peixe que, abrindo a boca, engoliu-o.
O soldadinho estava novamente numa imensa escuridão, dentro do estômago do peixe. E não deixava de pensar na sua amada: “O que estará a fazer agora a linda bailarina? Será que ainda se lembra de mim?”.
E, se não fosse tão destemido, teria chorado lágrimas de chumbo, pois o seu coração sofria de paixão.
Passou-se muito tempo, até que um dia, a escuridão desapareceu e ele ouviu quando falavam:
— Olhe! O soldadinho de chumbo que caiu da janela!
O peixe tinha sido apanhado por um pescador, transportado para o mercado e vendido a uma cozinheira. E, por cúmulo da coincidência, não era uma cozinheira qualquer, mas sim a que trabalhava na casa do menino que tinha perdido o soldadinho.
Ao limpar o peixe, a cozinheira encontrou dentro dele o soldadinho, do qual se lembrava muito bem, por causa daquela única perna.
Levou-o ao menino, que fez uma festa ao revê-lo. Lavou-o com água e sabão, para tirar o cheiro do peixe, e endireitou a ponta do fuzil, que entortou um pouco durante aquela aventura.
Limpinho e lustroso, o soldadinho foi colocado sobre a mesma mesa em que estava antes de voar pela janela. Nada tinha mudado. Até a linda bailarina, sobre uma perna só, com os braços erguidos acima da cabeça, mais bela do que nunca, continuava no mesmo sítio.
O soldadinho olhou para a bailarina, ainda mais apaixonado. Ela olhou para ele e sorriu, mas não falaram. Ele desejava conversar, mas não ousava. Sentia-se feliz apenas por estar novamente perto dela e poder vê-la.
Se pudesse, ele contaria toda a sua aventura. Certamente a linda bailarina iria apreciar a sua coragem. Enquanto o soldadinho pensava em tudo isto, o menino agarrou no soldadinho de chumbo e na bailarina e colocou-os por cima da lareira e disse:
- Hoje vais ter uma missão muito importante – dizia com emoção – vais proteger a bailarina de um terrível dragão, cuspidor de fogo, que vem aí.  
Estava um dia de Inverno muito feio, lá fora chovia muito e estava uma grande ventania. De repente uma janela abriu-se e o vento fez cair o soldadinho e a bailarina perto da lareira, onde o fogo ardia intensamente.
O pobre soldadinho viu a luz do fogo e sentiu um forte calor. A sua única perna estava a amolecer e a ponta do fuzil vergava para o lado. As belas cores do uniforme, o vermelho do casaco e o azul das calças perdiam as suas cores. O chumbo derretido da perna do soldadinho alcançou a perna da bailarina, juntando os dois.
O soldadinho lançou um último olhar para a bailarina, que retribuiu com silêncio e tristeza, pensando os dois que iriam morrer queimados por aquele fogo. Nesse instante apareceu o menino que salvou os brinquedos de morrerem queimados.
Apesar de estarem um pouco queimados o soldadinho estava muito feliz porque agora estava ligado para sempre à sua querida bailarina e disse:
- Agora ficaremos unidos para sempre!
A bailarina sorriu de felicidade, porque esse tinha sido sempre o seu desejo secreto.

Vitória, vitória acabou a história.

Boa noite e bons sonhos!

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