Era
uma vez…
Há
muitos, muitos anos, as terras Flavienses eram governadas pelos Mouros. O
Alcaide tinha um filho que se chamava Abed e uma sobrinha órfã devido à guerra.
Por vontade do Alcaide a bela jovem ficou noiva do seu filho Abed e esta não
recusou, pois os Mouros por ali eram poucos e nenhum lhe despertara paixão.
Uns
anos depois, os cristãos do jovem reino de Portugal iniciaram a conquista da
região de Chaves, tendo mesmo atacado a cidade flaviense. À frente do exército
português estavam os cavaleiros Rui e Garcia Lopes, irmãos de D. Afonso
Henriques. O Alcaide e o seu filho encabeçaram a resistência Moura e a defesa
do castelo. Mas a população da cidade, perante os ataques cristãos, começou a
fugir desesperadamente.
Entretanto,
o Alcaide e o filho lutavam tenazmente, embora sem grande sucesso.
Numa
dessas ocasiões, enquanto apreciava os combates, a moura fixou os olhos num
belo jovem guerreiro cristão que ganhava com os seus homens cada vez mais
posições no castelo. No mesmo instante, o guerreiro parou a ofensiva.
Dirigindo-se a ela perguntou-lhe:
- O
que faz uma jovem tão bela num triste espectáculo destes?
-
Quero perceber a guerra – disse a Moura
- É
uma coisa só para homens – disse o cristão.
- Não
é só os homens que são afetados pela guerra - retorquiu a moura - as mulheres e
crianças também ficam viúvas e órfãs.
O
cristão lamentou o facto e quis saber se ela estava só. Quando a moura
respondeu que vivia com o tio, Alcaide do castelo, o guerreiro mandou levá-la
imediatamente para o seu acampamento. A luta prosseguiu, entretanto.
O
castelo acabou por ser tomado e oferecido pelos Lopes a D. Afonso Henriques.
Contudo, a jovem moura manteve-se refém dos cristãos que não a trocaram por
prisioneiros feitos pelos mouros. Passou a viver muito feliz com o cavaleiro
que a raptara.
Abed,
conhecedor da situação, nunca lhes perdoou. Depois de restabelecido de um
ferimento de guerra, voltou a Chaves, disfarçado de mendigo. E como não
conseguiu aproximar-se da sua apaixonada, um dia esperou-a na ponte. Pediu-lhe
esmola. A jovem estendeu a mão para o pedinte e, nesse momento, algo de
fatídico aconteceu. Olhando-a nos olhos, Abed disse-lhe:
- Para
sempre ficarás encantada sob o terceiro arco desta ponte. Só o amor dum
cavaleiro cristão, mas não aquele que te levou, poderá salvar-te. Mas esse
cavaleiro nunca virá!
Ouviu-se
um grito de mulher. A jovem tinha reconhecido Abed. Contudo, como por magia, a
moura desapareceu para sempre. Abed fugiu de seguida. Só as damas cristãs que a
acompanhavam testemunharam o sucedido.
Desesperado,
o guerreiro cristão que com ela vivia tudo fez para a encontrar. Procurou
incessantemente na ponte e até pagou para que lhe trouxessem Abed vivo para
quebrar o encanto. Mas a moura encantada da ponte de Chaves nunca mais apareceu
e o cristão morreu numa profunda dor de saudade, ao fim de alguns anos.
Certa
noite de S. João, cheia de luar, pela ponte passou um cavaleiro cristão. Ouviu,
surpreso, murmúrios. Não viu ninguém, mas ouviu uma voz de mulher pedindo ajuda
e que lhe disse docemente:
-
Estou aqui em baixo, na ponte, sob o terceiro arco.
Estranhou
a situação. Procurou sob o dito arco; no entanto, continuava sem ver a moura.
Ouviu outra vez a moura que agora lhe dizia estar "encantada" e lhe
pedia que descesse e a beijasse para a salvar. Mas o cavaleiro hesitou. Tocou
no crucifixo que trazia ao peito e recordou-se dos contos que a mãe que lhe
costumava contar sobre as desgraças de cavaleiros entregues aos feitiços de
mouras encantadas. Perante estes pensamentos, olhou para o cavalo, montou-o e
partiu, jurando nunca mais ali passar à meia-noite.
Assim,
a moura da ponte de Chaves ali ficou para sempre encantada. E nas noites de S.
João, ouvem-se os seus lamentos como castigo do amor que tivera por um cristão.
Vitória, vitória acabou a história.
Como Flaviense, confirmo...
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